Wednesday, December 06, 2006

Violência

Artigo - Violência:
(Mais um artigo meu publicado pelo jornal ZH no dia de ontem)

"Vive-se um clima generalizado e crescente de violência. Está por toda parte: nos jornais, no rádio, na televisão, nas revistas, está no cotidiano, bem à vista...

Assume também várias formas: no trânsito, nos assaltos e seqüestros, contra a mulher, a criança e o velho, no esporte, no comércio, na política, na academia, entre países, etnias e vizinhos, contra animais e contra a natureza, na própria natureza provocada, entre religiões, na propaganda, na intensidade do som, entre aqueles que lutam por justiça e eqüidade social, no terrorismo e no desrespeito a si mesmo. Parece não haver mais outra forma de manifestação e de relacionamento.

Discute-se muito sobre a explicação do fenômeno: drogas, aumento populacional, paraefeito da comunicação, desigualdade social, falta de religião...
Alguns dizem que é da natureza humana e que sempre foi assim.

Entretanto, existe uma forma de violência que não tem sido suficientemente explorada: a violência (ou assédio) moral.

Violência moral acontece quando o governo, menosprezando a inteligência da população, expropria parte significativa do produto interno (quase a metade) através de impostos maquiados, sem declarar claramente o quanto e, muito menos, onde vai gastar; quando privilegia quem ocupa estruturas de poder e desvaloriza e avilta aqueles que prestam serviço na construção da cidadania através da educação, e aqueles que cuidam da saúde das pessoas. Quando ignora a identidade do cidadão (indivíduo), mesmo quando alardeia o coletivo na busca do poder.

O mesmo acontece quando são jogados uns contra outros, alienando e abafando a capacidade de controle social. Também é vilipêndio a corrupção impune e encoberta, transmudada e legitimada como negociação política necessária. Estão na mesma linha a distorção dos fatos e a propaganda política enganosa, que terminam legitimando comportamento semelhante nas ofertas enganosas do comércio e na ilusão do financiamento.

Cada leitor deve ter exemplos semelhantes para acrescentar a esta lista, mas o importante é que a violência moral institucionalizada termina por justificar e fomentar o comportamento de cada indivíduo, desenvolvendo uma nova cultura e desagregando o tecido social. Os fundamentos estão em desvalores da competição selvagem, da intolerância, da discriminação e da esperteza covarde, gerando descrédito, infelicidade e desespero generalizados.

De nada adiantam promessas de que o crescimento virá, se a casa estiver dividida, a entropia fomentada, se a confiança se desfez e se os fundamentos são imorais.

Essas considerações não se referem exclusivamente a nosso país, aplicam-se para quase todo o mundo. Servem também para a academia, para muitas empresas, para muitas ONGs, cooperativas e outras instituições. Não há mais para onde fugir, é necessário tentar arrumar globalmente nossa casa, começando peça por peça.
"

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